Numero da acessos

Contador visitas

Quem sou eu

Minha foto
Novo Hamburgo, RS, Brazil
Armazem das Tralhas, desde 2008 facilitando a vida dos pescadores com as melhores iscas artificiais para seu tipo de peixe. Quem ja negociou por aqui sabe da seriedade e comprometimento que temos para com os pescadores, porque sou pescador também. Aproveitem, sugestões e criticas sempre são bem vindas.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

USEM COLETES SALVA VIDAS SEMPRE QUE FOREM ANDAR EMBARCADOS
Pessoal
Gostaria,a pedido do Nelson do Caterva, de passar para voces a experiência trágica que eu passei nesse final de semana. Sei que todos que a esse forum acessam são pescadores, profissionais, amadores, semi profissionais ou mesmo quem não pesca mas vive dela, bem, vou começar do inicio. Eu tinha um parceiro de pescaria ha quase 20 anos, era mais que um parceiro era uma figura humana incrível, nunca alguém o ouviu levantar a voz, seja para que fosse, centrado, equilibrado, bem humorado e sempre disposto à ajudar quem quer que fosse. O seu nome era Jose Pedro Muller, tinha 47 anos, casado, dois filhos e um sonho na vida, comprar um sitio na beira da lagoa.
Muitas vezes nossos contatos eram por torpedos de celular ou mesmo ao telefone, mas sempre estávamos ligados. No dia 24/12/2007 eu enviei à ele uma mensagem pelo celular de felicitações pelo Natal, à noite recebi a sua resposta também desejando à mim e minha família aquelas coisas que os amigos desejam realmente aos outros...paz e felicidade... no final da mensagem ele me pergunta quando eu iria à praia pois ele tinha novidades....não respondi e na última quarta-feira, 02/01, me encontrei com um irmão dele, que também pesca conosco, o Cláudio, ele me disse que tinha sido incombido pelo Pedrinho de me dizer a novidade, o Pedrinho havia realizado seu sonho, vendeu a casa da praia e comprou um sitio que tinha como fundos a lagoa dos Quadros, no municipio de Capão da Canoa aqui no RS.
Assim que sai da casa do Cláudio passei na casa do Pedrinho, coincidentemente ele estava na frente da casa, quando ele me viu, antes mesmo de da boa noite ou coisa que o valha, ele me disse:
- Parceiro, comprei um sitio o qual os fundos dá dentro da lagoa e nós temos que ir pescar lá, estou com o barco, o motor e as tralhas todas nos esperando lá. o tem um detalhe, eu te levo, mas pra voltar tens que conseguir carona, vou trazer a familia de volta e não terei lugar.
A principio não via problema, porém tinha que conseguir uma carona, no outro dia, dia 03/01, falei com meu irmão e uma irmã para ver se eles tinham carona, recebi a confirmação da carona na quinta-feira, 03/01, imediatamente após receber a confirmação da carona, liguei para o Pedrinho duas vezes...o telefone estava desligado..então enviei um torpedo para ele me ligar, em seguida ele retornou:
- Aí parceiro....vamos??
- Vamos sim Pedrinho, confirmei;
- Que ótimo, vibrou ele, te pego em casa amanhã, sexta-feira, por volta das 14:00Hs.
Arrumei as tralhas, minhas roupas, engraçado...levei mais tralha que roupa. Sexta-feira: 04/01, 14:25Hs, ele chegou aqui em casa, com uma camionete Sportage, tb nova para ele, e uma alegria de dar inveja a qualquer criança quando ganha um brinquedo novo, pegou minhas coisas ajeitou na camionete, ficou conversanso uns 10 minutos com minha sogra que mora ao lado de minha casa, embarcamos e fomos ao sitio novo dele; A felicidade dele era contagiante, nem parecia o cara sério, pouco falante que eu conhecia fazia 20 anos, conversamos a viagem, de duas horas, inteira, em nossa companhia o seu filho mais velho, Douglas, de 9 anos.
No caminho ele me contou sobre o negócio da casa da praia onde entrou a Sportage no negócio e falou tb como encontrou o sitio. Era o sonho virando realidade, o carro dos sonhos e o lugar de lazer a tanto idealizado por nós.
Ao chegarmos, sua esposa Carmem, veio correndo, com um sorriso vasto no seu simpático rosto, quando me viu logo perguntou pela minha esposa, como minha esposa tinha que trabalhar ela não foi junto, ao ouvir minha resoposta ela abriu seus braços e me disse:
- Flávio, seja bem vindo ao nosso paraíso.
Chegamos, ele me mostrou o sitio, a saida para a lagoa, as instalações e o quarto aonde eu fiquei, após isso fomos tomar chimarrão à sombra dos eucaliptos, falaram-me sobre os projetos para adapatar o sitio para deixá-lo como eles queriam, ao terminaramos o chimarrão fomos pescar...claro esse era o nosso objetivo.
Caniços à mão, iscas, e muita alegria, linhas na água e pouca ação.
Logo em seguida chegou o Leandro e sua esposa, o Leandro é sobrinho dele, enquanto o Leandro desmbarcava suas coisas, eu, o Pedrinho e seus dois filhos pegamos o barco e fomos lagoa a dentro, todos com coletes salva-vidas, ficamos por meia hora, eu e o Douglas, o filho mais velho, pegamos, eu um jundiá e o Douglinhas uma traíra, resolvemos voltar, chegamos no trapiche da propriedade desembarcamos, o Leandro já nos aguardava para revisarmos as vara que deixamos armadas....
Assim que as revisamos, voltamos para a lagoa, agora eu, o Pedrinho e o Leandro, todos de colete salva-vidas, ficamos cerca de uma hora dentro da lagoa foi quando começaram algumas marolas, para evitar surpresas desagradáveis resolvemos retornar, no caminho o Pedrinho, era o nosso piloto, enroscou o motor duas vezes, uma vez em uma rede que estava na água e outra vez em um arame de alguma cerca, tivemos que rebocar o barco no braço por cerca de 200 metros , mas tudo bem, estávamos na orla, com uma profundidade de bater nos quadris.
Fomos jantar, o Leandro e a sua esposa nos acompanharam.
Por volta das 23:00Hs, eu e o Pedrinho voltamos para o trapiche para pescarmos com as varas que havíamos deixado de espera, ele se retirou à 1:00 da manhã, eu saí por volta de 1:30H, tomei um banho, enviei um torpedo para minha esposa e deitei.
Como sempre, quando pescamos, levantei as 6:00, ja era dia claro, era sábado 05/01, a passarinhada cantando animada com o nascer de mais um dia, quente, infernalmente quente, mas bonito com céu de brigadeiro.
Levantei, nem lavei o rosto, deixei pra lavar na lagoa mesmo, fui direto revisar as varas que passaram a noite aguardando alguma traira faminta, quando eu estava na segunda vara, eram 4, chegou o Pedrinho, calculo que eram 6:10, no máximo, 6:15 da manhã de sábado, ele vinha trazendo o carrinho com o motor, enquato eu terminava de iscar a vara, ele instalou o motor e me chamou para irmos pescar dentro da lagoa, prontamente subi. Partimos, ao chegarmos no canal vimos que haviam marolas demais, no caminho o motor apagou, era um sinal....
O Pedrinho, foi o construtor do barco junto como Cláudio, de quem ja falei anteriormente, ficou apreensivo, e disse:
- Flávio, vamos voltar à orla, depois, quando acalmar nós retornaremos.
- Vamos nessa, respondi;
Ao virarmos o barco para voltarmos, fomos surpreendidos por três marolas, aqui conhecidas como três marias, pois elas tem poucos centímetro de distância uma da outra e são ondas altas, cerca de um metro, a primeira desetabilizou o barco, nos agarramos na borda e nos olhamos, a segunda virou mais ainda o barco fazendo água, e muita água, logo em seguida veio a terceira, a que virou o barco de vez, saltamos na água para não sermos atingidos pelo barco, naufragáramos. Ao cair na água vi uma expressão de susto, desespero e apavoramento no meu parceiro, segue o diálogo, o que lembro e ficou gravado em minha mente:
- Cara, fica agarrado ao barco ele não vai afundar, ele me disse;
Realemnte, o barco é todo recheado de isopor, foi projetado para não afundar, porém, a popa começou a desaparecer na água, no que eu disse:
- Cara, essa m**** tá afundando, dei quatro ou cinco braçadas e retornei à proa do barco pois senti que eu não teria fôlego - Fica aqui que eu vou buscar um salva-vida e uma corda pra ti, ele disse;
- Pedrinho fica aqui...eu disse;
- Eu vou nadando devagar, assim eu canso menos e logo chego lá, ele retrucou
- Fica aqui, só vamos nadar se o barco afundar todo, eu, praticamente, implorei.
- Eu ja volto, ele disse e saiu nadando cachorrinho;
Ele sempre nos disse que sabia nadar, eu sei nadar mas como estou muito gordo e sedentário não teria resistência para vencer os 200 ou 250 metros do local aonde começava a dar pé, QUEM DIZ QUE SABE NADAR E NADA SÓ CACHORRINHO É SÉRIO CANDIDATO A TER O MESMO FINAL. Eu fiquei agarrado literalmente na proa do barco que ficou flutuando, ainda o vi por três oportunidades, quando as marolas batiam em mim e no barco nos fazia subir...na segunda vez ele estava me olhando. Voces não fazem idéia o que eu meditei nas três horas que fiquei agarrado ao barco, lembrei de minha esposa, de minha filha que sofreu um acidente automobilistico no dia 20/10/2007 e quase desecarnou, e hoje graças à Deus está aqui para nos dar o seu exemplo, lembrei de meu filho, com quem, infelizmente não tenho um bom relacionamento, mas que me comprometi a fazer de tudo para o ajudar, mas o famoso filme que todos dizem que passa da vida da gente, ah esse não passou pra mim.
Estranhei a demora do socorro, rezando para que a bolsa de ar dentro da proa do barco não vazasse, comecei a achar que o meu maior parceiro de indiada não havia conseguido.
De repente senti que a popa do barco sentou no chão da lagoa, comecei a imaginar inúmeras situações, mergular e liberar o motor, boiar ao lado do barco para não forçá-lo, sentar nele....opa, sentar nele...testei, empurrei a proa para o fundo e subi nele...ótimo, ele esava estabilizado e eu conseguia ficar sentado, naquelas alturas eu já não sentia mais meus braços, nem minhas mão, e as pernas estavam dormentes...quando sentei no barco, fiquei com água na altura do peito, assim eu conseguiria ver mais e também ser visto.
Não tenho noção de quanto tempo fiquei sentado até avistar, na orla, algo que parecia um moerão de marcação de limite de propriedade, mas estava estranho, aquele moerão não estava ali antes....foi quando vi o "moerão" mexer-se, era o Leandro, sobrinho do Pedrinho, que havia chegado e estava pescando no trapiche e resolveu entrar um pouco mais, renovaram-se minhas esperanças, gritei:
- LEANDROOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!! acenando com os braços ele se virou pra meu lado:
- AJUDAAAAAAAAA!!!!!!!!!, tornei a gritar acenando mais ainda os braços;
Graças à Deus ele me viu e saiu correndo, em poucos minutos estava ele no barco vizinho vindo ao meu encontro, ao chegaram perguntei:
- O Pedrinho chegou lá??
- Não ele me respondeu!!!
- Então ele se afogou, vão pra lado de lá para ver se acham ele. solicitei
O vizinho, me pediu para esperar mais um pouco pois eu estava, digamos, tranquilo, e eles foram procurar o Pedrinho na direção que eu indiquei, não acharam nada e voltaram para me buscar, quando subi no barco dele senti uma sensação de alívio e desespero, meu parceiro estava desaparecido.
Quando chegamos em terra, primeira providência foi ligar para minha esposa avisando-lhe do ocorrido, ao falar com ela tive a dimensão da coisa toda....o choro foi imediato, ela e meus sogros começaram a viagem de Novo Hamburgo para Capão da Canoa.
Em seguida avisamos ao corpo de bombeiros de Capão, logo chegaram o helicóptero, o avião chimango e um grupo de salva vidas e mergulhadores.
As buscas se extenderam até por volta das 15:30, quando finalmente acharam o corpo dele e o pesadelo descortinou-se...ELE MORRERÁ AFOGADO.
Esse depoimento te dois intuítos, o primeiro relator a trágica perde de uma pessoa que define muito bem o que um cantor disse em sua canção: - OS BONS MORREM ANTES. E o segundo é USEM COLETES SALVA-VIDAS, eu e o Pedrinho saimos do trapiche SEM os coletes, sei, podem dizer que foi imprudência, até burrice, mas o fato é que não somos os únicos que fazíamos isso, gente, se estivéssemos usando os coletes que ficaram na casa, hoje eu estaria relatando um final de semana, o último das minhas férias, de prazer satisfação, e alguns peixes na mesa, e o meu amigo do peito, meu maior parceiro de pesca estaria junto e vivo para desfrutar do sonho realizado.
Pessoal...USEM COLETES SEMPRE, sei que a grande maioria nem me conhece e podem estar achando que é bobagem minha, mas acreditem, isso tudo é a mais pura realidade. Fomos, digamos, prepotentes achando que conseguiriamos sair de um acidente ilesos pois, como muitos, achávamos que nunca aconteceria conosco mas pode acontecer, ainda mais se dermos oportunidade para que isso se faça realidade.

PEDRINHO, QUE DEUS TE RECEBA NO PLANO ESPIRITUAL, TUA PARTE NESSA TERRA TU JA CUMPRISTES, AGORA E PLANO MAIOR PRECISA DE TI.

OBRIGADO POR TER ME OPORTUNIZADO O CONVÍVIO CONTIGO E COM TUA FAMÍLIA QUE NÃO DESAMPAREMOS JAMAIS.

Que assim seja

Tchê um abraço Flávio R. De Negri